Conto do mês




















Algo chamado Saudade…

Nada neste mundo tem mais peso do que a saudade, nada. Saudade é uma dor imensurável e sufocante presente em cada hiato. É sentimento abstrato que esmaga o peito como se fosse concreto. A saudade é a vírgula quilométrica enraizada entre dois pontos, dos muitos textos que a vida infelizmente pausa por falta de prosa e até pelo excesso de rosas. Saudade afia os ponteiros do relógio, transforma poucas horas em cortes profundos, dominados por flashbacks com ardor de álcool cuspido sobre ferida aberta, aparentemente incicatrizável. A saudade afoga- nos com as águas calmas do passado, desfoca o presente e congela o futuro como faz o frio polar de uma nevasca. A saudade transforma qualquer música em motivo para pensar naquilo que partiu dentro de um avião, que nunca deveria ter descolado, nem por decreto do Papa. Saudade é emoção indivisível, razão incontestável para relembrar o gosto inesquecível daquela pessoa que mudou nossos passos, gestos e hoje, infelizmente nos considera gasto, empoeirado. A saudade é a sombra maldita que não precisa da luz solar para nos seguir por cada calçada da vida. Ela repousa num banco de passageiro vazio, dorme na nossa insónia, esconde-se nos presentes que doámos em caixas lacradas, blindadas pelo medo de encarar as memórias boas. Ela transforma um comercial de televisão em lágrimas reais, faz um homem de barba feita voltar a ser um menino ansioso em dia de natal, como um cachorro que espera o dono todo dia ao pé da porta, mesmo que esse nunca mais volte pra casa. A saudade enlouquece, embriaga, faz o mundo todo ter uma só cara e nenhuma cura. A saudade é um bar que já caiu na rotina, um prato de mariscada que foi comido antes do gozo, um beijo único no meio do olho. É o medo de perder uma peça no meio de uma multidão e de nunca mais encontrar outro alguém que encaixe tão bem nesse quebra-cabeça. Saudade é temer a vinda do novo e teimar em achar que o velho sempre será a melhor parte desta obra de arte, chamada vida. Os textos que a vida infelizmente pausa por falta de prosa e até pelo excesso de rosas. Saudade afia os ponteiros do relógio, transforma poucas horas em cortes profundos, dominados por memórias com ardor de álcool cuspido sobre ferida aberta, aparentemente incicatrizável. A saudade afoga- nos com as águas calmas do passado, desfoca o presente e congela o futuro como faz o frio polar de uma grande nevada. A saudade transforma qualquer música num motivo para pensar naquilo que partiu dentro de um coração outrora feliz. A verdade nua e crua é que ninguém nesse palco real está imune ao pesar da saudade, a dor latejante das inevitáveis partidas e dos planos que talvez permaneçam inacabados até o fim da vida, esquecidos numa lista eternamente guardada no fundo da gaveta, mas nunca jogados fora. Desconheço alguém nesse universo grandioso que não tenha perdido o chão, a cabeça, a pose e até mesmo a sanidade quando deu de cara com esse tal sentimento com aparência de muralha intransponível e cheiro de fotografias envelhecidas. Não existe colete à prova de saudade, nem formas de blindar a nossa vida dos estilhaços daquilo que vai e nem sempre volta. Sendo bem sincero, existem sim algumas dicas para quem não quer esbarrar com a saudade:
·        Recusar toda e qualquer alegria que te faça gargalhar até sentir dor nos músculos da barriga.
·        Nunca se deixe envolver com pessoas capazes de colorir os teus dias mais cinzentos e chuvosos.
·        Comer tudo sem sal e sem tempero, não viajar, não sair de baixo do edredom por nada.
·        Não beijar nem na bochecha, não faça sexo e em hipótese alguma conheça os seus avós se a vida lhe der essa oportunidade imperdível.
·        Não sei como sentem vocês ilustres leitores, mas eu prefiro carregar estas mil toneladas de saudade, ainda que embrulhadas em lágrimas e memórias martelantes, pois só assim poderei ter a certeza que estou vivo de verdade, sem talvez, nem porém.
·        Afinal, saudade é corpo de delito das coisas boas da vida.

Afinal Saudade… É o amor que fica!




Adaptado
Reiki Atlântico